terça-feira, 1 de maio de 2007

O deleite da barbárie e o gozo da carnificina, por Chico Lopes


Fui ver "300" em decorrência de dois fatores: a necessidade de comentar o filme profissionalmente e de conhecer seus elogiados feitos técnicos, na adaptação do gibi (ou, mais pernosticamente, graphic novel) de Frank Miller. Estou escolado nas estratégias sujas do marketing cinematográfico e sei que de nada que faça barulho publicitário muito intenso se pode esperar muito hoje em dia, mas, ainda assim, Cinema é arte & indústria e mantenho a cabeça sempre aberta para, no meio do lixo industrial, do "mainstream", descobrir alguns encantos e criações autênticos. Nunca esquecer que gente que hoje nos parece admirável e supremamente artística, como Billy Wilder e Alfred Hitchcock, era o "mainstream" de décadas distantes. Também falou-se tanto do bizarro rei Xerxes interpretado por Rodrigo Santoro que eu tinha que dar uma olhada nisso. Mas o filme me surpreendeu foi por outras razões, que, na verdade, nem são novas, mas continuam me inquietando e me espantam que não inquiete - ou não pareça inquietar - muito as pessoas. Já se viu algo tão sádico, tão militarista, tão preconceituoso, tão machista e tão cruel quanto esse filme?


domingo, 29 de abril de 2007

Quando li "Batismo de Sangue" . . .


tito.JPGtito1.JPGO filme "Batismo de Sangue", do cineasta mineiro Helvécio Ratton, é inspirado no livro homônimo escrito por Frei Betto (também mineiro), vencedor do Prêmio Jabuti de melhor livro de memórias em 1983.


O livro e o longa-metragem narram a participação dos freis dominicanos na luta contra a ditadura militar no Brasil nas décadas de 1960 e 1970. No filme, o ator Caio Blat vive o Frei cearense Tito de Alencar, torturado e morto no exílio em Paris aos 30 anos de idade, em 1974.


Sinopse do filme: Em São Paulo, no final dos anos 1960, o convento dos frades dominicanos torna-se uma trincheira de resistência à ditadura militar que governa o Brasil. Movidos por ideais cristãos, os freis Betto (Daniel de Oliveira), Oswaldo (Ângelo Antônio), Fernando (Léo Quintão), Ivo (Odilon Esteves) e Tito (Caio Blat) passam a apoiar o grupo guerrilheiro Ação Libertadora Nacional, comandado por Carlos Marighella.


Frei Betto segue para um convento no Sul do Brasil, onde ajuda perseguidos políticos a passarem pela fronteira. Vigiados pela polícia, Frei Fernando e Frei Ivo acabam presos e torturados. A polícia descobre como são feitos os contatos entre Marighella e os dominicanos, e prepara uma emboscada para matá-lo. O convento é invadido, Frei Tito é preso. Em Porto Alegre, Frei Betto também é preso e os dominicanos são transferidos para um presídio em São Paulo.


Frei Tito é interrogado e sofre terríveis torturas. Meses depois, um grupo guerrilheiro seqüestra o embaixador suíço no Brasil, exigindo a libertação de setenta presos - entre eles, Frei Tito. Contra sua vontade, Frei Tito é mandado para o exílio e vai viver na França. Mesmo longe do Brasil, Tito mentalmente não consegue ficar livre de seus carrascos. Por onde passa, acredita estar sendo vigiado e ameaçado. Com intuito de pôr fim ao seu martírio e se livrar de seus perseguidores, Frei Tito comete suicídio.



[nota] Li "Batismo de Sangue", a 1ª edição, tão logo foi lançado. Já havia lido vários livros de Frei Betto, e, estava absorto pelas "Cartas de Prisão". Ainda eu era religioso, fiz parte de uma congregação religiosa até 1982. O sacrifício dos frades franciscanos constituia-se em ideal, em algo a ser seguido como exemplo, tal qual o martírio do Mestre. Convivi com colegas que tinham amizade com os dominicanos, os nossos heróis. Assim como o diretor deste filme, quando li "Batismo de Sangue" também percebi que a história deveria ser contada no cinema (ação e suspense). A paixão e morte do Frei Tito foi o que mais me comoveu naquela leitura, uma mistura de medo (vivíamos aterrorizados), compaixão, coragem, crueldade e martírio. Algo transcendentemente religioso. Quero ver o filme.



Mais um sentimental...... Roney no seu "Galeria de Espelhos"



Outro sentimental (eu)





Reunião de amigos"Dá uma lida aqui no blog Bicho Solto e depois continue lendo (é o meu comentário)


Puxa… Isso é algo em que sempre penso, mas acho que nunca cheguei a colocar em palavras.


Talvez não tenha falado no assunto por não saber bem se é uma qualidade, um defeito, uma excentricidade, fruto de carência afetiva ou de uma alma que leva todo mundo muito a sério.


Gosto de pensar que é esta última. Acho que me apego às pessoas porque sempre olho para elas sob todos os aspectos indo do profissional ao emotivo passando por aquelas pequenas particularidades que nos fazem únicos.


A parte difícil disso é viver em um tempo onde os relacionamentos são justo o oposto, mantendo-se superficiais e fugazes.


Sonho um dia descobrir um jeito de juntar todas essas pessoas que passaram por minha vida ao menos umas 4 vezes ao ano! :-)"


[nota] Não deixe visitar este Blog do Roney, um cara sentimental, que expressa seus sentimentos, pensamentos e percepções de forma inteligente (coisa rara neste mundo virtual)



Terra Molhada, de Terezinha Oliveira Lemos


TERRA MOLHADA
Terezinha Oliveira Lemos


A chuva mansa acentua aromas,
envolve-me, intensamente,
o cheiro da terra molhada agradecendo a suave aspersão.


O espelho se revela
na poça d´água.
Resquícios da infância assomam,
tardes de brincadeira na rua.


O cheiro da terra molhada
numa linguagem especial
é um código de emoções.


[Nota] Recebi da Autora, de Araxá, MG, o seu novo livro "Terra Molhada". "Terra Molhada é um campo fértil a inspirar cidadãos e cidadãs na análise desta terra onde vivemos e que queremos para nós e para os que virão"


Ícaro, de Gabriel Pedrosa


icaro.JPGLivro de estreia de Gabriel Pedrosa, Ícaro tem na experimentação seu traço mais marcante. Seus poemas são indissociáveis do projeto gráfico, do livro como suporte físico: ganham corpo em versos em desalinho, linhas tortas e contraste entre páginas cheias e vazias, explorando a espacialidade da palavra dentro de uma vertente de pesquisa estética que ecoa a poesia concreta, porém amplificando suas inovações.


Ícaro é, portanto, um livro atravessado pela metalinguagem, pelo olhar de quem lê criticamente o repertório de nossos momentos literariamente mais inventivos.


Ateliê Editorial me encaminhou um exemplar, que vou prazerosamente entrar em contato com as leituras e releituras de canções e poesias consagradas.


Yes, nós temos cana, por Mário Persona *


O Tio Sam veio aqui, chupou cana, escovou os dentes e assoviou de contente. Se antes o vizinho era o Canadá, agora vizinho é qualquer país onde cana dá. O Brasil se alvoroçou, Zé Carioca sambou e Carmem Miranda cantou: "Yes, nós temos cana!" O petróleo virou vilão.

E quem vai dizer que não? Monteiro Lobato quis defender o petróleo e pegou seis meses de cana. Mal sabia ele que um dia o país deixaria de lado "O Petróleo é Nosso" e adotaria o lema "Cana Para Todos". A Polícia Federal já adotou e veja no que deu. Os canadólares apareceram mais rápido que os petrodólares.

Tirando os morros do Rio, onde a cana é difícil de pegar, a monocultura vai tomar de assalto nosso território. O Brasil vai ficar um verde só, do Oiapoque ao Chuí. Os ambientalistas que nos vigiam pelo Google Maps vão pensar que reflorestamos a nação. Mal sabem eles que o país do carnaval virou um canavial.

No interior de São Paulo, onde moro, "canaviar" é substantivo caipirês, mas aposto que vai virar verbo. Aqui está tudo canaviado. Se canaviar afeta a biodiversidade? Que biodiversidade? Aqui mel tem gosto de melado, teta de vaca dá garapa e passarinho voa em zigue-zague depois que bebe água que passarinho não bebia. >> Leia mais




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Entrevista com Henrique Chagas para o portal "Autores e Leitores"


Henrique Chagas, 47, escritor e advogado, radicado em Presidente Prudente/SP, concedeu entrevista ao portal "", onde destacou a relevância do papel "religioso" na sua obra. Henrique não se vê como um ser fortemente influenciado pela religião no seu sentido comum, mas sente-se religado ao Eterno. "Assim, creio que não sou nada religioso no sentido comum, mas sou extremamente religioso no sentido ontológico da palavra. Desde que me entendo, sempre me vejo religado a uma força transcendente. Busco sempre identificar-me com Aquele cujo nome é impronunciável. Esse religare transparece nas minhas idéias e nos meus textos; e, mais, materializa-se na reflexão do sentido da nossa existência e da nossa identidade humana", disse Henrique.


Henrique revelou que está trabalhando um romance: "Escrevo um romance cuja temática é exatamente esta reflexão sobre o sentido da existência humana, muito mais profundo que nosso mero sentido religioso, ao contrário, projeto nas personagens as nossas dificuldades de compreensão do sagrado e do profano. Penso que não existem coisas sagradas e coisas profanas. Tudo é sagrado, já dizia Djavan. Nessa busca de identidade as personagens se esbarram com a sua inexorável pequenez frente ao universo, ao aquecimento global, à escassez de água que já se avizinha, muito embora neste mundo pós-moderno tudo seja facilitado pela tecnologia de ponta". Falou ainda do seu trabalho como advogado e especialmente de Verdes Trigos.


Leia a entrevista.


Um poeta e seus filhos



"Nem todos os pais podem dormir com seus filhos na mesma casa em que vivem. Como eu, alguns pais são separados, que dispõem apenas de um sábado e domingo para confirmar a paternidade e reencontrar o significado da família. Pai separado sempre está sob a ameaça de despejo. De ser trocado. Ou de ser esquecido".



É o que escreve o poeta Fabrício Carpinejar, na contracapa de seu último livro, Meu filho, minha filha (ed. Bertrand Brasil). Há muito sofrimento, acusação e culpa nesses belos poemas. A filha mais velha, já adolescente, é tema de versos magoados, de uma sinceridade difícil de encontrar:



Quando brinco com as crianças// e faço palhaçada, elas se divertem,/menos tu, encabulada pela maneira/como converso de igual para igual.//Tantas vezes ouvi tua vergonha/ explicando aos colegas,/com os olhos virados para cima:// "Meu pai é louco"./Louco por quem? Já perguntaste?



Ou ainda:



Corto tuas unhas e reclamas/ que aparo muito rente da pele./Desculpa, tudo que vivi foi rente à pele.//...Eu te alfabetizei e foste/me tirando o espaço entre as linhas./Guarda-me apenas uma fresta.//Não importa o que os adultos falam,/serei o pai da insistência./Até onde posso ir para te resgatar?/Eu faço a cama com o travesseiro/debaixo das cobertas. Conforta-me a idéia/de que alguém está dormindo.//Preferes que o travesseiro/ fique por cima. Abominas a sensação/de que há algum morto em tua cama.//Reclamas do teu pai, como se ele tivesse/ condições de se inventar de novo./Desculpa, corto as palavras/ muito rente da pele,/assim como descascava maçã e levava com a faca/ uma lasca por vez em sua boca.//Tudo o que vivi foi rente à pele./Deixei de ser pai e virei a pensão da tua mãe./Não esqueço o dia em que o oficial de justiça/bateu à minha porta a cobrar/ o que já concedia naturalmente./No papel timbrado, teu nome contra o meu.//O nome que escolhi contra o meu./O nome que sonhei contra o meu./Fui teu primeiro réu, sem que tu soubesses.



Dá vontade de respirar fundo antes de fazer qualquer comentário. Os próprios versos, aliás, parecem ter uma respiração difícil, entrecortada, de quem mal conseguiria articular um discurso prolongado de viva voz. Na verdade, a seqüência de poemas deste livro constitui menos uma escrita lírica do que um texto dramático. Imagino essas falas no palco, quem sabe com novos poemas declamados pelos personagens que ficaram mudos neste livro; seria uma peça impressionante. Mas já o que se tem no livro é de uma verdade, de uma precisão nas imagens, e de uma força emocional (sem derramamento, mas também sem reticência ou hermetismo) incomuns na poesia contemporânea. (Marcelo Coelho - Folha de São Paulo)




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